Fotografia, a quanto obrigas...

A fotografia atravessou nos últimos tempos uma transformação da sua realidade de intervenção e projecção de imagem. Continua a supreender com o seu alcance, acesso e impacto. Se à 20 anos atrás só quem vivia da fotografia poderia adquirir equipamentos de excelente qualidade em resultados, para que o rendimento gerado fosse plausível essa aquisição, hoje de facto as coisas mudaram. Para melhor perspectivar esta cronologia de acontecimentos, irei abordar sumariamente o mercado de consumo nos últimos 15 anos para ter uma melhor perspectiva.






E em 5 anos tudo mudou...

Num espaço de 5 anos em Portugal como também no resto do mundo (2000 a 2005) o analógico (antigo filme e rolo) deu lugar ao digital, muito devido ao aumento de PCs e acesso à internet nos lares. Numa segunda vaga de mudança, entre 2005 a 2010 vimos os telemóveis a tomar conta das fotografias familiares, de ocasião, suprimindo muitas vezes a necessidade do uso de uma máquina fotográfica. Mas de 2010 a 2015 pouco ou nada assistimos de revolução nesta área, temos sim assistido às batalhas entre smartphones e companhias de tecnologia a provar qual tem a "melhor camara". Estas companhias teem sido o foco mundial das revoluções tecnológicas dos últimos tempos. As camaras fotográficas continuam a vender e as marcas a fazer a sua parte, fazendo o possível para aaumentar a sua gama de ofertas, para que o consumidor possa escolher aquele que melhor lhe cabe na carteira.

Dito isto, e depois de tantos anos em que não faltam a todos nós imagens de viagens e momentos de família, do trabalho, do lazer, todos estes anos que capturámos com máquinas e fotos, onde guardamos nós todo este portfolio pessoal e até íntimo das nossas imagens? As imagens são distribuídas pelos nossos telemóveis, computadores, portáteis, discos rígidos externos, e, ultimamente, "elevámos" ao estatuto da nuvem. Será que temos tempo para toda esta avalanche de imagens que nos toca de forma única, até porque, fomos nós que a criámos? Estaremos à altura? Como nos estamos a sair na fotografia? E E onde ela nos leva esta necessidade de arrumação e gestão, de milhares de fotos e vídeos tirados todos os anos? Não sei, mas que estamos na crista da onda de uma revolução que ainda não entendemos profudamente as mudanças, disso tenho a certeza.

Gatilhos fotográficos humanos

O mercado é volátil e rapidamente tudo muda. Se antes tínhamos filtros, agora temos filtros digitais no Instagram. Se antes era necessário imprimir para ter e ver, agora podemos facilmente partilhar com todos em qualquer parte do mundo através de um link com as nossas fotos, e só precisamos de um único ecrã! Se antes comunicávamos por escrita, agora adoramos partilhar aquelas imagens no Facebook que dizem tudo de uma só vez, por nós, imagem e texto. Também nós estamos a mudar. Através da fotografia aliada à tecnologia e internet "humana", abrimos horizontes na forma como o indivíduo se construi e se relaciona com o mundo exterior, com a comunidade.
                                














                              


Mas com grande poder, vem grande responsabilidade

O poder da imagem é fortíssimo, e não passou despercebido à inteligência humana. Muitas vezes mal usada, este poder pode arrasar e levar a conclusões negativas e desastrosas. Bem usado, a fotografia entusiasma e eleva a nossa alma, e pede-nos para sermos melhor no que fazemos e somos. Hoje em dia os meios de publicidade usam o forte poder da fotografia para atingir os seus fins com isso em mente: comunicar e seduzir o consumidor. Mas a que custo? Estará representada nessa imagem a verdade do que vendem? Terá sido ela manipulada para ser mais sedutor? Estas e outras questões não são infelizmente, tidas em conta pelos consumidores, embora estes gozem cada vez mais de informação para se esclarecerem. Informação por si só não chega, porque ela carece de ser validada. E é aqui que se comete um dos grandes erros da nossa era: tanto a informação como a imagem não validam por si só, a veracidade de acontecimentos. Um dos maiores mitos (ou por outro lado, descobertas que têem validado a televisão por exemplo como veículo válido de informação) nesta era de produção em massa de imagens e notícias pela internet, deve-se ao facto de que, devido aos vários locais de acesso de informação virtual, sendo o Facebook um dos mais importantes nos dias de hoje, vincularem notícias ou informações ou histórias que não estão validadas. Devido à baixa regulação dessas informações (embora o Facebook conta com ferramentas de auto regulação dos próprios utilizadores para limar esta falha) juntamente com a vasta iliteracia dos seus utilizadores, junta-se a faísca com a pólvora. Os resultados podem ser desastrosos do ponto de vista pessoal ou de organizações quando atingidos pois o engano e contaminação viral da informação que se propaga, dificilmente irá ser anulada eficazmente a 100% caso se verifique que a história não corresponde à verdade dos factos. Os danos ficam feitos. E o inverso também é verdade.

Qual a próxima revolução? Tecnológica ou humana?

Estamos a viver momentos difíceis na história do nosso país, é certo, mas não aproveitar este momento para reflectir sobre estas matérias é incorrer do mesmo erro repetidamente, e ela tem mais a ver com estratégia e abordagem do que mezinhas milagrosas. A melhor forma de evitar falhas nas informações e conclusões na sociedade é resolver a maior delas: a educação. A educação é para a vida, e a formação e a necessidade de actualizar também o deviam ser. Nos desafios dos novos tempos em que a mudança é tão constante, não escolher por uma via em que ela, diga-se "mudança", seja uma ferramenta em vez de ser lhe atribuída um estatuto de mera "alternativa", é comparável a fecharmo-nos numa camara escura e não deixar a luz entrar. Tal qual uma máquina fotográfica. Falta dar uns quantos passos para nos libertar da ignorância, mudando a nossa perspectiva sobre vários assuntos, e como os abordamos. Mas a estrada continua a ser sinuosa num país cheio de conflitos internos e que não encontrou forma de responder aos seus próprios anseios. 
                               













   

                              

Sorria... e pense na fotografia!

Quem diria que numa caixa escura, onde está algo sensível, e uma luz que entra num vácuo escuro e abre-se e fecha-se num milésimo de segundo, levada por uma vontade humana de prender nessa foto, esse milésimo de segundo das nossas vidas, fosse capaz de tocar e mudar a vida de tantos outros? A fotografia continua a mudar... e nós? E tu?


Texto e fotos de autoria de Nuno Azevedo - todos os direitos reservados

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